“Deus e o Diabo na Terra do Sol” é um filme escrito e dirigido por Glauber Rocha. O filme começa com Emanuel e Rosa sofrendo com a seca, por conseqüência, a fome, a miséria se tornam presentes na vida desses sertanejos. Emanuel tem uma entrega a fazer, levar dezesseis vacas até o Coronel Morais. Ao chegar, quatro vacas tinham morrido picadas por cobras. Coronel Morais diz que não vai pagar o vaqueiro. Então, Emanuel, lembrando da fome e da miséria que passa se desespera e mata o coronel.
A partir daí a saga do casal começa, fugindo da pobreza, indo à busca dos seus destinos. Vão ao encontro do beato Sebastião que se diz santo e milagreiro. O profeta promete a seus seguidores prosperidade e salvação. Ao longo da história o profeta se mostra louco, alucinado e promete o impossível ao povo, que com tanta miséria, fome e necessidades precisa ouvir algumas palavras confortadoras para continuarem suas pobres vidas. Emanuel acredita firmemente nas palavras do profeta, mas sua mulher Rosa, percebe a loucura do “falso” profeta. E depois de ver o assassinato de uma criança ela mata o beato Sebastião. Enquanto isso, Antonio das Mortes, um matador de aluguel, a mando dos latifundiários e da igreja, vai atrás do beato Sebastião e seus seguidores. Ao encontrá-los, Antonio, inicia uma chacina, deixando viver somente Emanuel e Rosa para que eles possam contar ao outros sobre a chacina.
Novamente, o casal se encontra perdido no sertão e acaba se encontrando com o bando de Corisco, cangaceiro remanescente do bando de Lampião. Corisco, sendo um homem destemido que muito sofreu na vida, batiza Manuel de Satanás e este agora tem novamente um sentido em sua vida, dessa vez completamente imerso no mundo do crime e do cangaço nordestino. Antônio das Mortes persegue de forma implacável e termina por matar e degolar Corisco, seguindo-se nova fuga de Manoel e Rosa, desta vez em direção ao mar.
“Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) é um dos filmes mais representativos do Cinema Novo, corrente artística liderada por Glauber Rocha, que teve como adeptos Nelson Pereira do Santos, Ruy Guerra, Joaquim Pedro de Andrade e Cacá Diegues entre outros diretores. Esse movimento foi fundado por jovens cineastas nos anos ciquenta. O cinema brasileiro estava em decadência depois das falências dos grandes estúdios. “Rio, 40 Graus” (1955), filme de Nelson Pereira dos Santos, abre espaço para o início deste movimento, que tinha como principal influência o Neo-Realismo Italiano e a Nouvelle-Vague Francesa. Com orçamentos baixos, a principal proposta era fazer filmes anti-industriais, bárbaros e polêmicos.
Música de Heitor Villa-Lobos, do qual Glauber era extremamente fã, cantada por Sérgio Ricardo e com letras próprias do diretor. Ganhou diversos prêmios e festivais por todo o globo. Glauber Rocha, então com 23 anos, conseguiu seu lugar na eternidade com o filme que melhor simboliza o Cinema Novo, que melhor retrata a cultura folclórica brasileira.
Considerado por muitos o melhor filme brasileiro. Deus e o Diabo exemplifica bem a personalidade de Glauber. Sujeito complicado, ambíguo, controverso. Foi mandado para o exílio pelos militares. Traiu a esquerda, apoiou Geisel. Depois traiu os militares e ninguém mais o queria. Muito polêmico, conseguiu a admiração de críticos e cineastas. O próprio Martin Scorsese nunca escondeu sua paixão pela arte de Glauber Rocha e atualmente patrocina a recuperação dos filmes do cineasta baiano.
Glauber diz sobre o filme que: “Eu parti do texto poético. A origem de Deus e o Diabo é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No Nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando: eu vou lhes contar uma história, que é de verdade e de imaginação, ou então, que é imaginação verdadeira. Toda minha formação foi feita nesse clima. A idéia do filme me veio espontaneamente.”
O cineasta baiano é até hoje símbolo daquele que muitos entendem que é o melhor momento do cinema brasileiro. Discutiu a forma como o cinema brasileiro se apresentava as pessoas, e principalmente, a forma como ainda nos colocávamos como latinos colonizados. Dizia que era a hora de nos libertamos desse estigma.
Por Cleiton Lobo